Dia 1
Finalmente, cheguei a Neverwinter. Foram dois dias longos e apertados como clandestino no porão de um navio. Tenho que lembrar de encontrar uma forma de recompensar o marinheiro que me ajudou. Ele arriscou muito por mim, e eu não esqueço favores.
A cidade é enorme e muito mais diversa do que eu imaginava. Isso é bom. Mais fácil de me misturar e começar de novo. Hoje, na praça, havia um festival acontecendo. Uma harpia barda estava cantando. Sua voz era incrível, e a comida, embora exótica, era deliciosa.
Fui até a guilda de aventureiros para ver se conseguia algum trabalho. Para minha surpresa, fui contratado junto com um grupo bem “incomum” para recuperar uma carruagem que havia desaparecido. A missão foi rápida, mas intensa. Encontramos a carruagem atacada por goblinoides. Eliminamos eles rapidamente e resgatamos uma humana que estava prestes a virar churrasco (eu achava que ela já estava morta). Conseguimos trazer a carruagem de volta para a guilda.
De volta à guilda, fomos pagos e bem alimentados. Parece que meu começo aqui foi bom. Recebemos mais um trabalho para escoltar um anão. Espero que seja mais tranquilo que a primeira missão… estou tirando dentes de goblin da minha carapaça até agora.
Minhas Opiniões sobre os Colegas:
Pi: Um fado estranho. Ele parece ser o mais “normal”, mas seu comportamento é errático. Nunca sei o que esperar dele. No entanto, seu cachorro é lindo e parece mais confiável que ele.
O Bugbear: No começo, achei estranho ver um Bugbear AZUL andando casualmente pela cidade, ainda mais com chifres e cauda. Mas, depois de conversar com ele, parece ser uma boa “pessoa”. Será que ele também é fruto de uma combinação de espécies?
Harpysune: A harpia é bem chegada às bebidas, talvez um pouco demais. Mas ela me resgatou no combate, mesmo com outros precisando de ajuda. Ainda vou retribuir a gentileza.
Johnny 5: O metálico lutou bravamente contra os hobgoblins. Mesmo gravemente avariado, parece estar bem agora. Ele já fazia parte da guilda, então talvez o conheçamos melhor quando ele reiniciar.
Neverwinter parece promissora. Vamos ver o que o futuro reserva para um fugitivo tentando começar de novo.
Dia 5: caminho até Phandalin
Sigo mantendo meus registros sempre que possível para ter certeza que ainda conservo ao menos minha sanidade. Os últimos dias têm sido atribulados, mas confesso que a vida em grupo me conforta bem mais que as fugas solitárias.
Juntos sobrepujamos algumas dúzias de goblins e outros goblinoides crescidos. Inclusive preciso pontuar que por mais que eu tenha ouvido falar como tais criaturas podem ser viis eu jamais pensei que pudesse sentir tanto desprezo por outro ser consciente. Eles são brutais, covardes, egoístas e trapaceiros. Não consigo entender como alguém como a senhorita Sune tem coragem de comer aqueles malditos.
Nunca pensei em mim mesmo como um heroi, sequer um aventureiro. Minha vida sempre foi simples, ajudando em trabalhos acadêmicos ou administrativos de meus pais. Devo admitir que essas adaptações feitas pela Combine trouxeram a tona um lado meu que eu desconhecia… ou será que isso também foi por conta deles? Até que ponto ainda tenho algo de [nome riscado] e não Ewan, a arma biológica da Combine? Por um lado me sinto bem podendo ajudar os outros e sendo útil.
Essa vida de aventuras por mais que tenha apenas começado já está rendendo bons frutos, entre eles o Manto das muitas modas - um acessório perfeito para quem precisa estar desaparecido, capaz de alterar suas cores e padrões conforme a vontade de seu mestre. Quem sabe com ele eu possa finalmente me livrar dessa maldita máscara metálica incômoda?.
Talvez por uma estranha piada do destino, talvez por determinação divina, mas esse estranho grupo de indivíduos parece não se importar muito com minha aparência. Ainda bem, já que desde aquele dia evito espelhos ou mesmo reflexos na água e uso essa maldita máscara de metal.
Mesmo tentando fugir da imagem dessa nova versão distorcida de mim mesmo ainda tem Ele, que sempre está ali, escarlate como sangue, sempre a me observar. Não sei se acompanha meus movimentos e decisões, analisando cada ação, cada golpe para um dia se virar contra mim. Talvez seja a minha consciência me forçando a reconhecer o monstro que me tornei. Será que é alguma força maior zombando de mim pelos meus erros do passado?
Ele sempre fica lá, calado. No começo eu tinha medo, pensava ser algo que a Combine enviou para me capturar, mas depois fui me acostumando e percebi que ele só reagia às minhas vontades, quase como se fosse um Eu mais brutal, mais impulsivo, alguém guiado pelas reações e desejos.
No nosso último combate algo estranho aconteceu. Um goblin maldito acertou uma flechada em meu ombro e eu realmente, realmente queria esmagar o crânio dele, mas seria suicidio pular no meio de três inimigos para atacar sem suporte… foi aí que o vermelho avançou e atacou o goblin. Qual foi a minha surpresa quando o ataque acertou em cheio, arrancando os dentes daquele infeliz!
Parece que meus outros companheiros também conseguem ver o vermelho agora. Desde que acordei do controle mental ele sempre esteve lá, mas agora ele parece mais ativo e desconfiado. Preciso entender melhor o que o vermelho é.
Droga. Odeio goblins. E hobgoblins. E até agora não fui muito afeiçoado à Bubears também com exceção do nosso amigo azul Hrrrank, que apesar da aparência feral e vestimenta “chamativa” têm se mostrado um verdadeiro cavalheiro.
O senhor Pipérion é… especial. As vezes me assusto como algo tão pequeno consegue condensar tamanho poder mágico. Seu julgamento é difícil de prever, mas ele parece ter um coração no lugar certo (fora que é muito difícil não confiar em alguém que ande tão bem acompanhado como o querido Au Fredo).
Johnny5 pode vir a ser preocupante. O construto continua produzindo novas armas, sendo basicamente um arsenal ambulante. Por mais que eu odeie goblins não acho digno maltratar eles, mas johnny parece pouco se importar em dissecar eles ainda vivos. E parece se divertir com isso.
E a senhorita Sune… Ela é muito bonita e confiável, mas muito descuidada! Apesar de manter a vanguarda não posso descuidar pois muitas vezes ela parece pensar mais com a barriga que com a cabeça! Preciso proteger todos, especialmente ela e o Pipérion.
Nota para mim mesmo: NUNCA confie em goblins.
Phandalin
Achei que bastaria desaparecer em meio à multidão por tempo suficiente para juntar algum dinheiro, mas subestimei meus captores. Eles estão sempre um passo à frente. Já consigo sentir seus olhos em mim, mesmo quando não os vejo diretamente. Às vezes acho que todos ao redor podem ser agentes disfarçados. Mesmo entre os companheiros, é difícil apagar a sensação de que, no fim, estou sozinho.
Mas o que me admira mesmo é esse grupo tão heterogêneo em que fui me meter. Talvez isso se prove favorável já que dizem que o melhor lugar pra sumir é em plena vista. E o Hwrrrank chama a atenção, o que é bom, pois mantém os olhares longe de mim, mas isso não significa que posso relaxar. Sinto por ele que sendo tão gentil e culto sempre é tratado pelos outros como um monstro. Aquele seu bastão é meio desbocado mas já me acostumei. Pipérion é complicado… nunca sei o que há por trás daquele olhar dele. Ele parece estar concentrado o tempo todo, mas ao mesmo tempo se mostra aéreo (e não porque ele voa!). Sua montaria Au Fredo no entanto parece saber cuidar bem do seu mestre. No fundo, todos eles estão aqui por seus próprios motivos.
Nunca pensei que uma cidade pequena pudesse ser tão agitada. Mal chegamos e já arrumamos encrenca com uns arruaceiros de casacas vermelhas. Hmpf. Bandidinhos de segunda que mal valem o esforço. Mesmo assim, quando estamos em combate meu sangue parece ferver… eu não sei o que é mas sinto como num estado de alerta acima do normal. Minhas antenas vibram ao menor sinal de perigo. Meus olhos captam cada gota de suor, cada pulsação do coração nas veias e artérias… e ainda tem aquela minha cópia vermelha… sempre a postos, sempre à espreita, parece estar sempre esperando que eu vacile para tomar o controle. O pior é que ela não precisa de palavras. Não precisa falar para me mostrar o que fazer, é como se ela fosse a parte de mim que já desistiu de tentar ser outra coisa além de uma máquina de matar. O olhar dela… meu olhar… sempre parece cobrar algo. Seria isso um instinto feral imbuído em mim através dos experimentos? Ou será uma sede de sangue que adquiri ao cometer as atrocidades que a Simic mandou mesmo sem ter controle sobre minhas ações. Cada ato de sabotagem, cada item roubado, cada vida tirada por essas mesmas garras manchadas de sangue que hoje uso para proteger meus aliados… ou seriam meus amigos? Será que algum dia realmente terei paz?
Os conheço faz tão pouco tempo, mas sinto poder confiar na maioria deles. Ainda tenho minhas ressalvas quanto ao Johnny. Apesar de ser uma máquina de combate completa ele muitas vezes se comporta de forma desentendida e curiosa, quase como uma criança em uma loja de itens mágicos, fora essa mania de ficar mexendo os dedos como se estivesse manipulando algo. A senhorita Sune… ah senhorita Sune… por um lado sua fome voraz e apetite excêntrico me arrepiam a carapaça, por outro lado sua gentileza e altruísmo me fazem querer pedir perdão pelo pecado de sequer temer suas ações. Ela já me salvou tantas vezes que eu chego a ter vergonha de pedir sua ajuda. Agora aquela thiefling é talvez a mais difícil de entender. No começo ela parecia interessada somente em dinheiro, mas tem se provado muito útil. Ainda vou manter meus olhos nela (o que é bem fácil quando não se pisca) mas devo admitir que ela parece encaixar perfeitamente nesse grupo de desajustados. Será que algum dia conseguirão me ver como mais que um monstro ou um alvo? Talvez isso nem importe. O que importa é sobreviver.”
Cada dia que passa é uma vitória menor do que a última. A Combine está vindo. Sempre está vindo. O tempo parece escorrer pelas minhas garras, e sinto que o cerco está se fechando. Não posso parar, não posso ficar aqui por muito tempo. Preciso planejar meu próximo movimento antes que eles cheguem. Ah, mas quando eles chegarem vou fazer se arrependerem de terem vindo.