by Caio Mizerkowski
52 min read

Tendo, pois, muitos empreendido pôr em ordem a narração dos fatos que entre nós se cumpriram, conforme me transmitiram os mesmos que os presenciaram desde o princípio, e eu, que estive e vivi tais acontecimentos.

Pareceu-me também a mim conveniente descrevê-los a ti, ó deslumbrante Helga, por seu delicado pedido, havendo-me já informado minuciosamente sobre suas empreitadas a mando da Guilda.

O vosso relato me instigou a ir viver tamanhas emoções, para que conheças a certeza das coisas de que já estais informada e as que seus belos olhos nem imaginariam deslumbrar.

Segue abaixo os nomes de possíveis pessoas relevantes para essa minha mais nova empreitada fora das Masmorras do Mago Louco. A seguir:

  • Mago Miguel (humano): é um mago que planta batatas (inusitado) - ainda não o vi;
  • Senhor Tião (humano): é o líder da Guilda, membro da Aliança dos Lordes;
  • Romero Lopez (Meio-elfo): um aventureiro Caçador que gosta de galantear todo tipo de raça do sexo feminino. Não é inteligente, acreditou que um cachorro falava como um humanoide. Parece lhe conhecer;
  • Jonathan (Anão): estava mui aflito com sua amada Rafaela.
  • Rafaela (humana): donzela raptada.

1.1 Minha chegada

Não iria crer se lhe dissesse que fui parado nos portões de Neverwinter devido a minha aparência um tanto quanto monstruosa.

Ora, pois, os humanos a mim me são o verdadeiro horror deste mundo decrépito.

Sou grato por ter a Helga.s2, meu maravilhoso invento lidou muito bem com toda a situação incomoda gerada por minha figuração. A mesma repassou ao imundo soldado toda a referencia necessária sobre a mim.

1.2 Dentro da cidade

Enquanto andava distraído pela cidade admirando suas construções não tão belas e frondosas, avistei seres muito incomuns andando livremente. Posso garantir que a vossa pessoa se enganou ao me informar que era incomum presenciar estranhos como eu. Que ironia, me senti dentro da Masmorra do Mago Louco, foi bem familiar ver outras “monstruosidades” convivendo em sociedade.

O Misterioso Homem que se chama Ewan. Ele parece reservado, observador e mui ágil. Ainda não sei ao certo o que ele é, digo no sentido de ser humano ou uma anomalia criada pela Trama. De igual modo, uma fada ou melhor, um fado chamado 3,14 (π ou “Pi”) e não acreditaria que ele tem como montaria um enorme cachorro chamado Au-Fredo e nas costas do mesmo tem o poderíamos chamar de mini acampamento. Confesso que é difícil avistar uma fada no plano material, notei presença da magia feérica e me senti “em casa”. Porém, o que seria casa? Ainda me falta essa resposta.

Para lhe alegrar com um belo sorriso, irei apresentar de forma bardica o próximo ser incomum que conheci.

Ao longe na praça
Uma moça cantava
Mas olhe só que graça
Ela tinh penas e voava
Estou falando da Barda Harpia!

Gostou desse pequeno poema? Torço para que sim. O nome dessa barda Harpia é Harpysune.

Entretanto, o que mais me transbordou de curiosidade, foi o Constructo Johnny 5, o meu pai chamava essas coisas de androides. Ainda não sei se é um engenho gnomico, halfling, humano ou élfico. Ele parece ser inteligente e ter boa percepção. Já o humor é duvidoso, se é que tem humor.

2.1 A Aventura nos Chama

Depois de vislumbrar a cidade, as pessoas, a comida e a não boa recepção. Me deparei com a tão famosa guilda que tanto falava.

Os seres mistérios que mencionei anteriormente também estavam diante da guilda, foi nesse momento que o anão Jonathan chegou exacerbado junto ao autômato Johnny 5.

O desafortunado anão informou ao senhor Tião o desaparecimento da pobre donzela Rafaela. Um breve silêncio se instaurou e foi interrompido com a voz esganiçada de Romero, que desarranjou meu parecer sobre a catastrófica situação narrada.

Fatos expostos e estávamos apostos para seguir os rastros deixados pela carroça do pai do miserável anão da Forja Olho Furado.

Meus pés já estavam cansados e sujo de terra quando me deparei com o que parecia ser minha pegada, reviravolta, não era minha pegada. Harpysune, a barda, reparou que havia sangue no chão e adentramos a densa floresta e avistamos uma cena tenebrosa. Rafaela estava assando na fogueira enquanto os malditos goblins e os dois Hobgoblins passavam o tempo com conversas furadas, jogos de cartas e afiando suas armas enferrujadas.

A passarinha Harpysune pisou em falso chamando toda atenção para si. Fui ágil e me preparei para atacar entre os arbustos. Notei a movimentação predatória de Ewan. O fado Pi, nem o vi, não sei onde o pequenino estava. Mal percebi a presença do autômato Johnny 5 ao meu lado.

A batalha foi árdua nunca tive tanta desventura em minhas brutas investidas dotadas de bestialidade, mas, a pouca sorte do goblin superou a minha e sucumbiu diante de minhas chamas. Johnny 5 lutava bravamente contra os dois hobgoblins. Harpysune cantava enquanto nos curava e nos ajudava a cada ataque que sofremos. Pi ainda não havia visto desde o início do combate. Ademais, o que mais me fez vibrar de emoção, foram as majestosas táticas de combate de Ewan, este homem banhou o chão com o sangue dos goblins. Posso afirmar que ele parece ser experiente em batalhas, tem certa graça élfica.

Após o fim de nossa terrível luta contra os Hobgoblins e os malditos goblins, Ewan, Pi e eu amparamos a jovem donzela Rafaela da fogueira e a estabilizamos. Todavia, a jovem necessita de uma curar milagrosa para recompor os membros danificados, braços e pele.

Nesse meio tempo, Harpysune estabilizava Johnny 5 e …

A Guilda de Aventureiros de Neverwinter - Segunda parte da 1º Sessão (segunda sessão)(25.06.24)

Olá, querida e encantadora Helga,

Realmente, a cidade de onde viestes é extremamente animada, complexa e problemática. As pessoas aqui chamam qualquer um para se aventurar com coisas terríveis. Não é necessário nem mesmo o título de aventureiro, ou seja, papai mentiu para mim, contando balelas sobre aventuras e insígnias.

Sou, de fato, um homem tolo que se deixou levar pela ideia romântica do heroísmo. Pensei que haveria um crivo para testar a aptidão dos aventureiros, mas não existiu teste algum. Tu me avisaste que tal preparação não seria necessária.

Ora bolas, pensei cá com meus botões que estavas a brincar comigo. Agora vejo o equívoco que cometi ao levantar mil vezes aquele enorme tronco na Costa da Espada e vir alternando entre marcha pesada, leve e corrida até chegar a esta cidade imunda que tens a mania de chamar de “lar doce lar”. Doce és a vossa graça; esta cidade, no mínimo, cheira a fezes de cavalo, ferro fundido, álcool barato, suor e outros odores corporais. Sabes que meu olfato é muito apurado; estou vivendo um martírio para lhe encontrar e viver minhas aventuras longe da Masmorra.

Doravante, após a enfadonha batalha contra os goblins malditos e os dois hobgoblins, regressamos à Guilda de Aventureiros de Neverwinter. Lá recebemos um bom pagamento pelo nosso “trabalho” e uma boa comida. Sir Tião nos deu uma nova missão. Ele propôs a Ewan um trabalho de escolta para um anão cujo nome não me recordo; só sei que vamos pôr mãos à obra mais uma vez. Tenho a impressão de que encontrei um grupo ao qual pertenço. Pergunto-me se era disso que falavas quando me incentivavas a sair e explorar o mundo. Parece que ouço tua voz em meu ouvido repetindo vossa fala na nossa despedida: “Besta, sai logo desse lugar. Tenho certeza que vai achar em dois tempos companheiros de aventura em quem confiar. Você é um cara bacanudo depois que a gente deixa de lado o seu jeito seboso de lidar com as coisas e a sua carasca rabugenta. Você precisa aprender a enfiar o pé na jaca, chutar o pau da barraca e descobrir com quantos paus se faz uma canoa” — seguido do som esganiçado da tua gargalhada irritante que me faz tanta falta.

Já que abordei a questão da sujeira e do álcool barato, fiquei contente com os conhecidos amigáveis que o acaso juntou a mim. A barda Harpysune ficou um tanto quanto alterada ao beber meu experimento 51. Parecia até um bezerro faminto pelo leite da mãe. Teceu muitos elogios ao meu álcool etílico 95%. Fiquei furioso com tamanha falta de educação ao tomar o frasco de higienização de minhas mãos e entornar goela abaixo, mas o elogio dela amenizou minha ira. Ainda estou chateado, era meu último frasco e não trouxe o equipamento necessário para produzir mais. É maldade desejar que ela tenha uma bela ressaca?

Sobre a sujeira, o enigmático Ewan disse que precisava de um banho, o que me fez admirá-lo, pois mostra que é asseado, diferente dos demais habitantes de Neverwinter. Até ofereci meus inventos de banho para ele, o xampu e o condicionador de pêlos. Ele agradeceu e perguntou se tinha algum hidratante para carapaças, mas infelizmente não o possuo.

Já o Johnny 5 tem cheiro de óleo; gosto desse cheiro, pois me lembra dos inventos do papai. O fado Pi deve ter se banhado em sua casa móvel, que fica nas costas do leal escudeiro Au-Fredo.

O pequenino Pi veio relatar sobre uma sala bem interessante na Guilda, e o que descobrimos foi estupendo! Pi encontrou um livro de capa vermelha e dourada com uma diversidade de nomes de heróis da Guilda. Nessa extensa lista de nomes, apenas um chamou a atenção de Pi: “Mizzar, O Herói da Chama Verde”. O nome parecia saltar da página.

Pi também me mostrou uma criatura que se assemelhava às que habitam a Masmorra do Mago Louco. Era uma quimera com feições de lobo, serpente, águia e cauda de dragão com escamas verdes (a parte de grifo não tem penas, mas sim escamas verdes). Só de olhar, tenho certeza de que é o experimento de um mago muito habilidoso; arrisco dizer que seu criador seja o próprio Mizzar.

Curiosidade interessantíssima sobre Mizzar:

Era um grande tiefling feiticeiro capaz de manusear o mineral chamado Mindar, uma pedra que emite calor como um carvão em brasa, mas que libera o calor de uma chama verde. O mago está morto há mais de 400 anos.

P.S. descobri o motivo de Ewan cobrir o rosto, sua boca é incomum das de outras raças, creio que este é o motivo de o deixar acanhado ao ponto de se alimentar utilizando a máscara.

Lembrete:

Sir Tião incumbiu-me de entregar em mãos a Johnny 5 um atlas de capa marrom, adornado com o desenho detalhado do perfil da cabeça de um veado em tons de verde, este é o símbolo do enclave esmeralda. O atlas contém o mapa de Faerûn, além de mapas de outras cidades, continentes e até de outros Planos.

O velho homem também informou que, caso o Autômato tenha dúvidas ou deseje mais informações, deve procurar pelo Druida Rodolfo, que está a caminho de Phandalin para encontrar-se com a Halfling Queline Alderleaf.

Supositório para Goblins - Sessão 3 (02.07.24)

Ó gloriosa Helga, continuo a relatar minha aventura por estas terras caóticas ao lado dos meus novos companheiros de viagem.

Permita-me refrescar vossa memória a respeito da missão que meu grupo recebeu de Sir Tião: encontrar Gundren Buscarrosca e um humano membro da Aliança dos Lordes em Phandalin.

Durante o percurso até a Trilha do Trijavali, conversávamos sobre nossas vidas e sobre a singularidade de nossas individualidades. Foi quando Ewan pediu para informarmos se víssemos algum ser híbrido, e o fado Pi apontou para mim, indicando-me como tal. Querida Helga, acreditais que ele se referia a mim? Será que sou tão diferente dos outros bugbears? Meu corpo é assim tão peculiar? Mais cedo, Harpysune ficou a observar minha cueca, que tu fizeste com tanto apreço; fiquei envergonhado por estar tão exposto, mas realmente esta vestimenta evita meu superaquecimento, é arejada e fácil para lutar. Contudo, ela destaca algumas protuberâncias de curvas não tão discretas. Agora questiono-me se outras pessoas também reparam na minha tanga.

Confesso que fiquei triste e entediado durante todo o percurso, até avistarmos dois cavalos caídos na estrada. Quase fomos surpreendidos por quatro goblins que tramavam uma emboscada contra nós. Mas deverias ter visto a forma esplêndida como os explodimos em mil pedaços.

Os cavalos estavam mortos há um dia, para ser exato. Sabeis que sou bom em analisar essas coisas; tudo indicava que foram mortos por flechadas dos goblins. Encontrei junto ao corpo de um dos cavalos um objeto cilíndrico, confeccionado em couro, medindo 10 cm de largura e 30 cm de comprimento. Acredito que seja uma bolsa para pergaminhos ou mapas. Pi insinuou que essa bolsa tem outra utilidade, mas não revelou o que costuma guardar nela. Acredito que esse fado fala por enigmas, o que é sensacional. Estou tentando desvendar esse pequeno quebra-cabeça que meu novo amigo Pi me deu.

Johnny 5 percebeu que os cavalos têm a sela da família dos irmãos Buscarrosca. Continuando seu discurso eloquente, Johnny 5 informou que foram esses anões que o religaram. Durante toda essa belíssima e trágica explicação da vida metálica do pobre autômato, Jonathan informou que o cavalo pertencia a Gundren.

Passado todo esse momento cansativo e de odor fétido devido à putrefação dos cavalos, Ewan encontrou o que parecia ser uma trilha na floresta, graças ao olhar perspicaz de Jonathan, que percebeu rastros de corpos supostamente arrastados até essa trilha.

Tinhas razão, Helga. Tem tudo para ser emocionante aventurar-se entre árvores e arbustos. Porém, tudo isso me incomoda; irrita-me sentir tantas coisas encostarem em mim. Sinto-me perdendo o controle, quase virando realmente a tal “Besta” que tens o costume de me chamar. No meio de tantas sensações desagradáveis que experimentei num mesmo dia, o silêncio grotesco da floresta foi rompido pelos berros de dois goblinoides que jogavam um tal de uno. Pegamos os dois miseráveis desprevenidos, graças às habilidades extraordinárias do autômato Johnny 5.

O ataque de Pi explodiu um dos braços do goblin preso à corda mágica de Johnny 5. A barda Harpysune, uma mulher voraz e faminta, finalizou o moribundo goblin em uma única estocada de sua cimitarra. Posso jurar que pude ouvir a harpia desmembrando e separando os pedaços daquele ser decrépito como se fosse um boi de corte. Parece ser sua comida de emergência; estou ciente de que não devo comer nada vindo de suas mãos.

Restou apenas um goblin de pé após levar uma machadada no peito desferida por Johnny 5, que o fez sangrar feito um porco. Do outro lado do riacho, Ewan, usando graciosamente a musculatura das pernas, realizou um salto magistral até a outra margem. Foi realmente uma cena digna de apreciação, como se fosse uma dança clássica. Ele foi tão ágil que emendou o salto com uma contenção, dominando o goblin com seus braços.

Com o maldito goblinoide preso, pude auxiliar no interrogatório. Perdi a paciência com o goblin, que se identificou como Klar, ou assim pareceu pronunciar. O desgraçado mal sabia falar; pareceu-me mais burro que os goblins que enfrentamos anteriormente, quando resgatamos Rafaela da fogueira. Arrisco a dizer que estes goblins são ainda mais feios e ignóbeis. Posso afirmar que a seleção natural irá eliminá-los em breve. O modo como lutam é de tamanha ignorância que chega a dar dó a um ser desprovido de intelecto. Estou exagerando, sabemos que a maioria dos goblins são desprovidos de saber. Acredite, esses eram terríveis.

Minha falta de paciência foi tamanha que Johnny 5 intimidou Klar com sua aranha autômata, que pode virar um supositório. Não sabia que ela podia fazer isso. Klar urinou-se de puro medo e nos disse que o humano fora levado para ser devorado (mau gosto culinário para carnes) e que o anão foi levado para o castelo do Rei Groll. Continuou narrando que não sabia a localização do castelo, então Ewan o amarrou.

Como posso finalizar este relato? Pois bem, estamos em um impasse. Ver se há outro goblin que saiba o caminho ou seguir com a não orientação deste goblin que nada sabe. Também precisamos descansar, pois tivemos alguns feridos após a emboscada meia-boca que sofremos.

Olhos Rubros, o Urso-coruja e a Misteriosa Gruta - Sessão 4 (09.07.24)

Sinto as rochas sob meus pés enquanto seguimos o desafortunado goblin Klar por veredas sinuosas e lamacentas, às vezes ásperas e, por incrível que pareça, de certo modo mais belas que a cidade. Algo parece agradar-me, embora não consiga definir o que seja.

No entanto, posso afirmar com convicção que percorremos a amaldiçoada floresta em círculos por cerca de quinze minutos, perdidos e sem direção certa, seguindo o goblin tão insensato quanto um bardo lascivo apanhando do taberneiro após ser flagrado aos beijos com a filha deste.

Bem, não mexer com as filhas ou filhos dos taberneiros é algo que aprendi ao testemunhar um conhecido, talvez um amigo, sim, meu amigo bardo Dórémi de Fásollási, apanhar do taberneiro após ser encontrado na cama com a filha do mesmo. Dia trágico aquele, tive que carregar o desgraçado por quinze dias, até perceber sua farsa. O perturbado gnomo fingira todo esse tempo estar doente devido à surra.

Enfurecido com o impostor, não me contive e bati nele até perceber que estava completamente… veja só que vexame, estou a divagar em meus pomposos relatos para ti, ó minha grande musa inspiradora. Prosseguindo, Karl realmente não sabia o caminho. Ponderamos longamente sobre o que deveríamos fazer ou para onde seguir, quando Ewan notou algo estranho em uma árvore. Eram enormes arranhões profundos de garras e o que parecia ser marcas de um bico afiado e colossal. Ao analisar essas marcas, percebemos que seriam de uma criatura enorme e perturbadora, tal qual um urso-coruja.

Acredito que saibas a que tipo de monstruosidade me refiro; caso contrário, tentarei ser breve ao explicar: esses seres fabulosos emergiram inicialmente da imaginação fértil de dois homens insanos, devotos de criar abominações. Gary, o Venerado, e Dave, o Lendário, são os extraordinários idealizadores daquela célebre masmorra que muitos aventureiros evitam explorar. A saber, refiro-me a Dungeons & Dragons.

Os urso-coruja personificam a essência feroz e indomável do reino das feras e aves. Podem parecer uma junção improvável entre uma coruja e um urso, mas sua constituição física singular e aterrorizante inspira temor e reverência nos intrépidos e desprevenidos que ousam enfrentar tal perigo.

Ewan, Harpysune, Pi e eu estremecemos ao perceber o iminente perigo diante de nós, naquela clareira onde um modesto acampamento estava montado. A cena era trágica; meu estômago revirava ao avistar restos de corpos com as entranhas expostas. Creio ter notado o corpo de alguém muito jovem ou, talvez, de alguma raça diminuta, totalmente mutilado. E ali, devorando um humano sem a necessidade de mastigar, estava o que temíamos: o Urso-Coruja.

O autômato Johnny 5 não compreendeu completamente e muito menos havia contemplado com seus olhos metálicos aquela magnífica e monstruosa criatura. Johnny 5, posicionado mais atrás no grupo, teve sua visão obstruída talvez pelo meu corpo robusto.

A lembrança da cena seguinte ainda me causa arrepios. Não me refiro ao Urso-Coruja, mas aos meus companheiros tentando, de maneira grotesca, explicar o que era aquele ser para o autômato. Todos explicavam de forma tola o fascinante ser que avistamos; eu apenas observava, remoendo-me por dentro. A cada palavra, sentia pontadas no cérebro, como se parte do meu imenso intelecto escorresse pelas orelhas, semelhante ao efeito excruciante do derretimento da pele de um ser natural se tornando um recém-illithid ou um gnoll.

A pior explicação foi a de Ewan, que simplesmente disse que o Urso-Coruja era uma mistura de pernas de cavalo, urso e coruja. Era como comparar uma obra rococó, que valoriza a beleza, com uma obra barroca, que exalta o feísmo. O autômato deu-se por satisfeito, enquanto H.s2 me acalmava recitando aquele mantra que tu, minha musa inspiradora, fizeste com tanto amor e carinho para mim: “Para com essa merda de mimimi inteligentinho de mago. Ninguém pediu a caralha da sua opinião. Deixa de ser um arrombado, babaca e um tremendo de um cuzão preso ao que tu acha certo. Porra, a vida não é um morango, Hrrank!”.

Perdido nos recônditos de minha mente e percebendo que realmente me irrito facilmente com esses contratempos de convivência, ouvi o som da criatura disparando em nossa direção. A percepção de um Urso-Coruja é simplesmente fantástica! Nosso grupo, em perfeita sintonia e fluindo com harmonia, sofreu poucos ferimentos e combateu com maestria aquela monstruosidade. A cada golpe desferido, era uma luta alucinante pela sobrevivência; somos, afinal, animais racionais, embora alguns não pareçam pensar.

Lembras quando mencionei que o Urso-Coruja “inspira temor e reverência nos intrépidos e desprevenidos que ousam enfrentar tal perigo”? Teus belos olhos castanho-escuros brilhariam ao nos ver lutar de forma majestosa contra esse monstro. Foi árduo, mas saímos vitoriosos.

Admiramos, sim, admiramos aquele ser que jazia morto aos nossos pés. As enormes garras e bico, perfeitamente desenhados, afiados e que provocam pavor só de encará-los. Ewan, sem hesitar e com grande destreza, conseguiu retirar o bico e as garras do Urso-Coruja. Depois, caminhou até o que parecia ser o ninho da besta e encontrou algumas quinquilharias, um Ovo de Urso-Coruja, um Manto e um Elmo.

Fiquei com o Ovo, é claro. Quero ter esse ser belo e majestoso comigo. Cuidarei dele como se fosse meu filho. Acho que observei muito Pi e Au-Fredo, e desejei ter um amigo de quatro patas que faz jus à minha grandiosidade. Pi e Ewan experimentaram o Elmo, que, segundo a etiqueta interna, era um Elmo do Pavor. Notei que esse temível elmo de aço faz os olhos brilharem em vermelho enquanto está em uso e pode mudar de tamanho para se acomodar perfeitamente à cabeça de quem o estiver vestindo. Já o Manto Longo de Muitas Modas permite mudar o estilo, a cor e a qualidade aparente da vestimenta ao bel-prazer do usuário. O peso da capa não muda, e, independentemente da sua aparência, o manto não passa de um manto. Embora possa duplicar a aparência de outras capas mágicas, não adquire suas propriedades mágicas.

Johnny 5 admirava a capa e mostrava seu belíssimo sobretudo de couro e óculos de soldador, que estão com ele há uns cinquenta anos. Ele nos explicava o quão à vontade se sentia vestindo essas peças de roupa, embora não as precisasse. Até disse que ficaria mais garboso se usasse uma cueca similar à minha. Pedi-lhe para fazer um sobretudo para mim com o couro do Urso-Coruja. Vai demorar algum tempo até ficar pronto; ele me disse que o couro necessita ser curtido antes de ser costurado.

Fiquei a imaginar uma bela cueca e um glorioso sobretudo. No entanto, a conversa sobre o couro precisar ser curtido desencadeou uma teoria horripilante sobre o que poderia significar “curtir” o couro. Alguns disseram que o gesto de polegares opositores levantados, enquanto os demais dedos se contraem na palma da mão, bastava para “curtir” o couro.

Estupefato com tamanha ignorância e repensando como ainda não surtei com esses apontamentos, graças ao teu mantra, minha amada Helga, minha cabeça se mantém no lugar. Se mantém tão bem sobre o meu pescoço, que enquanto pensava em algo para rebater o desserviço educativo, meu olhar investigativo e minha boa percepção para notar olhares avistaram pares de olhos rubros sobrevoando entre as árvores e uma figura misteriosa, como se fosse uma nuvem negra. Falei sobre o que vi para Harpysune e apontei a direção. A pobre moça ficou amedrontada ao ver aqueles olhos.

Pedi para que ela avisasse os demais enquanto eu me dirigia ao encontro daquilo. Meu espírito investigativo e minha curiosidade de mago estudioso me levaram até aquele local. Vi que naquela árvore havia a marca de uma mão, e onde ela pousara, estava apodrecido. Os outros se juntaram a mim e, infelizmente, o que eu e Harpysune contemplamos havia desaparecido. Mas, graças a H.s2, que captura imagens em tempo real para reproduzir como se fosse uma mensagem gravada na nuvem da trama, pude mostrar a eles tudo o que vi. Concluímos que poderia ser algo que também possui o Elmo do Pavor, igual ao nosso.

Esperamos por um tempo e regressamos para a gruta onde encontramos Klar. Começamos a explorar o ambiente quando entramos em combate com três lobos atrozes. Foi uma bela batalha que culminou na morte dos lupinos. Ewan viu uma fenda na parede atrás dos lobos, que parecia ser um local de onde lançavam alimentos para eles. O que o fado Pi tem de diminuto, de igual modo tem de xereta. Ele voou até o topo da fenda, próxima ao teto da gruta repleta de estalactites, e avistou alguns Goblins e um forte bugbear no centro alimentando outro lobo atroz.

O bugbear falava algumas coisas em goblin, que Pi reproduziu muito bem sem saber o significado; era algo como “tome esse pedaço de carne **” e mais algumas piadas e xingamentos.

Querida Helga, o restante desse relato será um espetáculo de pura luta e muito sangue, do jeito que amas.

Klarg, o Fujão - Sessão 5 (16.07.24)

O que irei lhe relatar agora é o prólogo do que poderia ser o início de um confronto épico, não fosse pelas infortunas desventuras de um bugbear covarde. Tal demonstração de falsa bravura muito me irrita, pois retira o esplendor das batalhas e das conquistas, algo que faz o sangue de todo guerreiro fervilhar de ira.

Portanto, minha amada Helga, prosseguirei com meus relatos sem mais delongas. Continuando, Pi atou a corda de maneira firme a uma rocha. O pequeno ser demonstrou furtividade e engenhosidade, facilitando para que nosso grupo escalasse a parede até a fenda sem dificuldade. Ele é, de fato, admirável.

Ascendemos facilmente a parede de nove metros. Ewan, com o auxílio do Manto Longo de Muitas Modas, camuflou-se de tal forma que desapareceu de nossa visão. Harpysune também se ocultou. Pi manteve-se furtivo, e eu, logo atrás da barda, agarrado à parede. Infelizmente, Johnny 5 caiu, fazendo um barulho que aguçou a curiosidade de um dos goblins, que veio investigar o que estava acontecendo.

Com meus longos braços fortes, frutos da natureza bestial de minha linhagem híbrida de bugbear e outras origens desconhecidas, agarrei e imobilizei rapidamente o goblin antes que ele pudesse alertar os demais. Johnny 5, com destreza divina, finalizou o inimigo. Entretanto, a caverna não exalava um aroma floral, e o lobo, a quem o bugbear chamava de Estripador, aproximou-se para investigar. Num ímpeto astuto, Pi arremessou o Elmo com cheiro de carne na direção do lobo, que o considerou apetitoso e o devorou facilmente. Contudo, o maldito lupino uivou, alertando sobre a presença de intrusos. Como você diz, “estamos fritos” foi o que lampejou em minha memória.

Ewan, num ímpeto feroz, lançou um dos goblins na direção do lobo, que morreu instantaneamente devido à força do impacto. A cabeça do goblin colidiu violentamente com a do Estripador. O líder bugbear, sem hombridade, fugiu para chamar reforços e se esconder. No entanto, não contava com nossa astúcia e recebeu um golpe certeiro da aranha de Johnny 5, que o fez sangrar. O autômato intimidou o bugbear com a cabeça do lobo, o Estripador, dizendo: “Chegou a sua encomenda.”

A luta foi como uma brincadeira infantil; perseguíamos o bugbear, que descobrimos chamar-se Klarg. Achei uma tremenda falta de criatividade goblinoide terem nomes tão similares. Agradeço por ter sido nomeado por mim mesmo; Hrrank foi o primeiro som que pronunciei, e meu pai, intrigado, batizou-me assim. Hrrank é um nome original, forte, com presença.

Klarg corria enquanto nos aproximávamos. Em um corredor estreito, eu e Johnny 5 ficamos cercados por goblins. A aranha autômata havia se desligado, enquanto Pi, Ewan e Harpysune combatiam outros goblins na bifurcação abaixo da ponte onde o rio passava suavemente pelo caminho esculpido ao longo dos anos. Num misto de desespero e tentativa de salvar sua vida que se esvaía pelo sangramento, Klarg gritou: “Parem de me atacar e se rendam. Se fizerem isso, eu solto o humano.” Meus companheiros, que tinham visão do bugbear, viram que o velho guerreiro humano estava sem um dos braços, desacordado e com uma adaga no pescoço.

Aceitamos a oferta de Klarg e resgatamos o humano Sildar Hallwinter, que fora sequestrado junto de Gundren. O nobre homem informou que o anão fora levado para o Castelo do Rei Groll, pois ele e seus irmãos estavam na posse do mapa de uma antiga caverna, a mina de Phandelver.

Lembro de meu pai ensinando-me sobre a trama. Ele mencionou que, há mais de quinhentos anos, foi feito o pacto de Phandelver entre humanos, anões e gnomos. Essas três raças utilizaram a mina, banhada pela força mágica das chamas verdes, para forjar artefatos mágicos. Até mesmo magos humanos criavam tomos usando a magia da chama verde, possivelmente relacionados ao herói Feiticeiro da Chama Verde, o herói de Neverwinter.

Gundren está no castelo do Rei Groll. Voltamos à caverna e negociamos com um goblin que estava planejando um motim contra Klarg. No entanto, o infeliz não havia informado os outros goblins e retornou, oferecendo-se para nos levar pessoalmente até o castelo que tanto falam. Helga, o que mais me deixou roxo de nojo, foi o fato de estar coberto de sangue. Cheiro horrível e forte em minhas narinas, metálico e pútrido.

Nem Todo Goblin, mas Sempre um Goblin - Sessão 6 (24.07.24)

Minha amada Helga, recordo-me de teus sábios conselhos sobre os iminentes perigos além da Masmorra do Mago Louco. Disseste acertadamente: “Nem todo goblin, mas sempre um goblin. Se for negociar com esses desgraçados, esteja sempre com uma adaga na mão.” Estavas certa, e isso me fascina. Tua sabedoria para analisar cada possível situação transcende as batalhas sangrentas.

Tudo o que aconteceu até o momento, desenrolou-se em poucas horas. Ainda é o segundo dia com meus companheiros e já vivenciamos batalhas e revelações profundas. Receio que Pi esteja desconfortável. Embora o pequenino tente sorrir, seu olhar transparece inquietação. Notei que ele olhava para a própria mão, transmitindo preocupação.

O goblin que planejava um motim contra Klarg chamava-se Yemmik, mas era tão covarde quanto o bugbear. Acreditas que enquanto eu e meus companheiros lutávamos bravamente contra alguns globinoides e Klarg, o maldito Yemmik saqueava os cadáveres deixados para trás? Nessa ação, ele pôs as mãos no elmo de Pi.

Antes de relatar esse incidente, devo mencionar que nossa luta foi brutal e exaustiva, tudo para honrar um trato com um goblin. Nossos corpos estavam no limite, até J5 mostrava sinais de precisar se reabastecer da trama. Sempre senti uma presença estranha próxima a Ewan e, dessa vez, ela se revelou: uma cópia idêntica a Ewan, porém escarlate como sangue. Seu olhar era vazio, mas seus golpes eram precisos. Ao fim da luta, esse ser ainda estava lá.

Não tivemos tempo de remexer nos espólios dos corpos que repousavam grotescamente no chão irregular da gruta. Sem vida, vidas que ceifamos. Minha linda flor, meu jasmim, ensinaste-me que expurgar os malfeitores é fazer o bem, então fiz o bem. Nós, meus companheiros e eu, fizemos o bem, mas não me sinto herói. As vitórias nem sempre fazem sentido. Foi estranho matar seres como eu, que poderiam ser como eu. Mas estes, eles eram o mal encarnado, devoradores canibais.

O que nos interrompeu foram os grunhidos de Yemmik e seus subordinados que vinham de outros corredores da gruta. Estavam felizes, comemoravam no que antes era, ou que Klarg achava ser, uma sala do líder. Quando apresentamos a cabeça de Klarg, o mentiroso, o ignóbil goblin Yemmik achou-se esperto por alguns segundos e mostrou que não se deve confiar cegamente em goblins. Falhamos nisso e depositamos confiança. Perdoe-me, Helga, por vacilar em um de teus ensinamentos.

Entretanto, Yemmik mostrou que aprendeu bem com o antigo líder e fugiu ao ver o massacre que fizemos com seus aliados. Fugiu de medo, fugiu porque era fraco. Disparou entre os arbustos. E, mais uma vez, o sol ardia em nossas retinas, e pude contemplar o céu ficando vermelho, lembrando-me a cor de teus cabelos, o que me fez lembrar que um momento de felicidade pode ser interrompido por palavras descabidas.

Passei um terrível vexame por conta das piadas de H.s2. Ela fez uma infeliz piada com o humano e o nobre cão Au Fredo. Não irei reproduzir a piada em respeito aos envolvidos. Ela foi exagerada e acabou exacerbando a inquietação de Pi, que colocou H.s2 em seu lugar. Queria esconder meu rosto de vergonha. Sinto que morri naquele momento. Pedi perdão a Pi, Au Fredo e ao humano Sildar.

No final de tudo, enfim reviramos o que sobrara na gruta. Havia algumas caixas com um logotipo de um leão azul num escudo estilizado. Acredito que seja da loja do Escudo do Leão, com filiais em Waterdeep e Phandalin. Também pegamos duas poções de cura, quinhentas peças de cobre, cem peças de prata e uma estátua de sapo esculpida em jade, do tamanho do fado Pi. Se meus olhos não me enganam, e sabes que sei avaliar bem itens, essa escultura deve valer quarenta moedas de ouro. Nas caixas, havia também rações de viagem, cimitarras, espadas, armaduras leves e pesadas. Pelo meu esplêndido modo de lutar, fui recompensado com uma armadura nova e mais uma arma.

Harpysune estava devorando os goblins, demonstrando um gosto peculiar e assustador quando se alimenta. Johnny 5 lustrava seus inventos e fazia alguns reparos. Ewan e eu carregávamos as caixas para fora da gruta enquanto Sildar estava bem acompanhado por Au Fredo. Fiz um carinho nele, pois é um bom garoto, Au Fredo é realmente um cão sábio.

Pi estendeu a mão e um cintilar surgiu de um de seus dedos. Era um anel e, em um piscar de olhos, as caixas foram transportadas para o anel. O pequenino disse que dormia no anel e que ainda havia um espaço confortável para ele. Fiquei animado ao contemplar o que parecia ser um Anel do Respiro Engarrafado. Irei lhe explicar como esse anel funciona:

Geralmente encontrado com gênios ou genasi, o anel pode fazer vossa pessoa desaparecer magicamente e entrar em seu recipiente, que permanece no espaço que o deixou. O interior do recipiente é um espaço extradimensional no formato de um cilindro de vinte pés de raio e vinte pés de altura, e se assemelha ao seu recipiente. O interior é confortavelmente equipado com almofadas e mesas baixas e tem uma temperatura agradável. Enquanto estiver dentro, pode ouvir a área ao redor do recipiente como se estivesse em seu espaço. Pode permanecer dentro do recipiente por algumas horas. O recipiente pode ejetar qualquer um caso esteja morto ou se o recipiente for destruído. Ao sair do recipiente, aparecerá no espaço desocupado mais próximo dele. Quaisquer objetos deixados no recipiente permanecem lá até serem removidos e, se o recipiente for destruído, todos os objetos armazenados lá inofensivamente aparecem nos espaços desocupados mais próximos do espaço anterior do recipiente.

Não é sensacional esse invento?

Sildar animou-se com nossa ajuda e nos informou que poderíamos descansar em Phandalin antes de partirmos em busca de Gundren no Castelo do Rei Groll. Também nos informou sobre seu amigo Iarno Albreck. Confesso que parei de ouvir e só desejava um repouso, um lugar para banhar-me e ter uma alimentação decente. Executei os movimentos de batalha de Durin, preciso treinar mais e relaxar meus músculos.

Enquanto seguíamos para Phandalin e recalibrava a H.s2 em uma infusão de chá de camomila e boldo para regular seu vocabulário, Pi me surpreendeu ao aceitar meu perdão e me presenteou com um belíssimo Babador Branco com um garfo e uma faca bordados nele, ao qual vesti imediatamente. Não contive a emoção que transbordou de meus olhos e me impulsionou para um caloroso abraço. Ainda bem que Pi é forte e me abraçou com a mesma intensidade.

Enquanto caminhávamos e eu admirava o meu presente, percebi que se tratava do Babador da Satisfação Suprema, um item até que incomum. Nunca havia visto um antes. Este artefato encantado transforma cada refeição em um banquete celestial, restaurando as energias exauridas em uma jornada laboriosa. Durante uma refeição realizada em um breve intervalo de descanso, se a vida fosse recuperada, seria ao dobro.

Meu relógio de pulso tramal me indica as horas. No visor de vidro mostra que são quase cinco da tarde. Admiro o céu e ele me mostra que sou pequeno como os grãos desta terra batida. Ainda tenho terríveis sensações, mas o novo é o que mais me preocupa. Não tenho uma divindade em que crer, entretanto, ergui para ti um altar em meu coração. Tu és a minha Deusa da Guerra. Libero minha fúria como uma prece silenciosa a ti, de que estou chegando e que me permita poder ler esses relatos para vossa graça.

Alli, a Ladina de duas vozes - Sessão 7 (30.07.24)

Ainda perdido no recôndito da mente, onde posso reviver nosso encontro e nossa despedida inúmeras vezes, como um alquimista que refaz os cálculos para produzir o tão sonhado “Elixir da Longa Vida”, sinto o vento úmido e um pouco quente de Phandalin. Por um breve momento, me sinto feliz, pois acredito que irei-lhe rever, e é verdade que também verei Durin.

Sinto alguns olhares em nossa direção, mas o que mais me causou arrepios foi a forma como uma certa mulher observava nosso grupo adentrando a cidade. Permita-me descrever essa figura singular que cruzou nosso caminho, para que possas imaginá-la em toda sua peculiaridade.

Ela é uma tiefling, uma criatura que carrega a essência infernal em sua forma. Sua pele é pálida, quase chegando a um tom lilás, quase etérea, contrastando vivamente com seus cabelos curtos de um roxo profundo, que se assemelha à cor das ametistas mais puras. Chifres adornados com padrões intricados emergem de sua testa, o esquerdo está quebrado e o direito se curva graciosamente para trás, conferindo-lhe uma aparência tanto majestosa quanto ameaçadora.

Suas orelhas são pontudas e adornadas com brincos dourados que reluzem à luz, realçando ainda mais sua presença. No pescoço, ela ostenta um colar com um pingente que ainda não sei dizer o que é, um símbolo de mistério e poder, juntamente com uma gargantilha preta que abraça sua garganta delicadamente. Sardas espalham-se suavemente por seu rosto, conferindo-lhe um toque de humanidade que contrasta com sua natureza infernal.

Atrás dela, uma cauda com a ponta em formato de seta se movimenta com uma graça inquietante. Seus olhos, embora eu não possa descrever a cor, carregam um olhar sério e penetrante, refletindo a sabedoria e a experiência de muitas batalhas e jornadas. Ela é, sem dúvida, uma visão enigmática, Helga, e sua presença ressoa com a magia e o mistério do mundo ao nosso redor.

Chegamos pelo lado que encontra-se a Ferraria Smithy. J5 desejava reconstruir um braço autômato para o Nobre Guerreiro Sildar e, para isso, seria necessário dar esse “pulinho” no ferreiro, para que o nosso magnânimo autômato Johnny 5 pudesse forjar tal engenho surpreendente que inspira o futuro e o esplendor de eras vindouras. Rui Barbo é o nome do Ferreiro que atendeu o J5. Ele conseguiu projetar o tal braço que se assemelha muito ao meu em tamanho e excelência majestosa de um bugbear. Ele também comprou couro curtido de dois metros.

Nesse meio tempo, eu, Ewan, Pi e Harpysune nos encaminhamos para a loja Provisões de Barthen e, por um descuido, acabamos retirando as encomendas de Gundren de forma errada e notamos nosso equívoco. Atrás de nós, a mulher tiefling sorria de nossa desatenção. Virei em sua direção e disse-lhe: “Achas nosso bando tolo, não é? Nem preciso questionar o que és. Olhar astuto, vestes leves, você deve ser uma ladina.” Ela caminhou em minha direção, deu de ombros e pegou uma saca que estava em cima de uma das caixas que eu carregava e disse: “Preconceito vindo de um grupo… tão misto quanto o seu?” E se dirigiu até o local onde estávamos descarregando a encomenda. Eu não quis ser indelicado, apenas fiz um apontamento óbvio.

Depois que terminamos o trabalho, partimos para a recompensa merecida e negociamos com o homem que estava atrás do balcão. Ele era rabugento e pouco generoso, negou entregar as moedas ao Au Fredo que havia nos ajudado. De lambuja, a ladina que se enfiou entre nós e “ajudou” pegando apenas uma saca aleatória acabou sendo recompensada. Quase discutimos com o homem, mas aguardamos o retorno de Pi para que nosso amigo leal recebesse o dinheiro. Estou a falar do sábio cão Au Fredo.

Pi estava no ombro de Sildar a caminho da prefeitura para encontrar um amigo querido do Nobre Homem. Ele estava procurando por Iarno. Infelizmente, o amigo do Guerreiro não estava lá na prefeitura. Pelo contrário, eles encontraram um homem gordo sentado em uma cadeira pomposa enquanto se balançava. Harbin Wester é o nome desse burgomestre. O tal Iarno pertence à Aliança dos Lordes e também não está em Phandalin. Harbin informa que está como burgomestre da cidade faz uns quatro anos e nunca viu nem ouviu falar de Iarno ou outro membro da Aliança dos Lordes.

Pi diz que a Aliança dos Lordes é muito influente nessa região. Sildar complementa que Iarno até enviou uma carta falando que havia chegado na cidade. Harbin remenda dizendo que não recebera nada nos últimos vinte dias. Sildar súplica a Pi, que na verdade se chama Pipérion, a ficar de olho para procurar o Iarno que tem 1,50m de altura, cabelos e olhos negros, uns 30/35 anos, com bigodinho fino. Então, de forma intuitiva, Pi projeta uma imagem como um retrato de Iarno e indaga ao burgomestre sobre o homem. O mesmo diz que não o viu. Pi sente total confiança no burgomestre e Sildar pede um empréstimo de duzentas moedas de ouro em nome da Aliança dos Lordes.

A noite já chegara aos céus e a ladina misteriosa continua a conversar com nosso bando. Ela se chama Alli e está procurando por companheiros de viagem e sei bem o quão necessário é ter os olhos astutos de um ladino por perto. Não pude conversar muito com a moça, pois H.s2 se empolgou a falar com Alli, mas algo me chamou atenção. A mulher fala sozinha com duas vozes femininas. Não sei ao certo o que isso significa, mas é medonho de se ver. Este mundo além das Masmorras do Mago Louco me faz crer que o exterior faz parte de um universo maluco.

Enquanto seguimos rumo à estalagem Stonehill Inn, encontramos Pi, Sildar e Johnny 5. Ganhei de presente um sobretudo semelhante ao de J5 e mais uma vez meus olhos marejaram. Puxei o autômato para um abraço e, segurando o meu cajado com a H.s2, registrei esse momento e chamei essa ação de auto se gravar estaticamente de “selfie”. J5 também entrega o braço para Sildar, que o agradece com muita satisfação. Pi retorna com a recompensa de Au Fredo e seguimos para a estalagem. Porém, J5 diz que iria ficar de guarda na carroça. Sildar então realiza o pagamento dos serviços que prestamos à Aliança dos Lordes.

Após toda essa comoção, pudemos descansar na estalagem com uma boa bebida anã e comida que Ewan rapidamente pediu. Fomos servidos por uma boa moça chamada Elsa, que vez ou outra parecia cantarolar “livre sou, livre sou”. Não conheço essa cantiga, mas parece ter boa voz. Sune até começou a bater o pé no ritmo. Bem, para deleitar de uma bela refeição, é necessário lavar as mãos. Partindo desse pressuposto, encaminhei-me ao banheiro e esqueci das regras de etiqueta em bater na porta antes de entrar. Entrei e me deparei com um humano que estava a defecar. O cheiro era tão terrível que me ardeu as narinas. Helga, o cheiro era de defunto.

Fiquei roxo de vergonha e sem ar pelo mau cheiro. Se instaurou uma briga, aquele homem tentou me intimidar, e ele parecia crescer em bravura, mas logo murchou quando Alli o encarou no fundo dos olhos enquanto brincava graciosamente com sua adaga, arremessando-a na porta do banheiro, tirando um fino do homem que estava com vestes rubras. O “cagão” fugiu de medo e eu pude lavar as mãos. A comida era realmente boa.

A garçonete Elsa, mostrando toda a sua preocupação conosco, nos disse que era perigoso mexer com aquele homem, pois fazem parte de um terrível bando de mercenários titulados como “Marcas Vermelhas”. Eles usam um uniforme vermelho. Pelo que a jovem humana informou, um certo homem cujo nome é Teo Tender foi morto após se meter com eles e sua família. Também nos disse que eles não chegam perto da loja de Halia Thornton. Esses mercenários costumam frequentar a taberna chamada “O Gigante Adormecido”.

Enquanto nos alimentávamos, a senhorita Alli foi conversar com Halia Thornton e começaram a dialogar o seguinte, ou ao menos foi o que pareceu aos meus ouvidos: “Você está com aquele pessoal?”. Alli concordou com a cabeça e Halia prosseguiu: “São muito barulhentos e você é bem esguia. Admiro os discretos”. O som da estalagem estava alto e não ouvi bem, notei que os lábios de Alli pareciam responder algo como: “…sou perfeita para o trabalho”. Mais uma vez perdi a atenção, pois a cerveja anã era boa. Quando me virei, vi os lábios de Halia dizerem: “E eles? Os seus amigos?”. Alli pareceu responder: “São amigos novos”. O olhar de Halia parecia duas labaredas, seus lábios bem desenhados formaram um sorriso e ela pareceu dizer: “Hum, então você pode us…”. Ewan me perguntou se eu tinha mais da amostra alcoólica 51, quando me virei, Alli e Halia sorriam de forma diferente, da mesma forma como tu, minha majestosa bárbara, sorri para mim após nossos intensos treinamentos.

Alli volta para a mesa e disse que arranjou um trabalho para nós, relacionado à Mansão Tresender. Disse que Halia deseja um tal Cajado de Vidro e pediu para derrubá-lo. Alli abriu um mapa e nos mostrou onde era a loja de Halia, localizada na parte sul da cidade. Honestamente, por que essa mulher iria pagar para derrubar um cajado de vidro? É um desperdício de dinheiro pagar um bando para quebrar um cajado. Isso me irrita.

Crepúsculo das Sombras: A Caçada dos Híbridos - Sessão 8 (06.08.24)

Ó, minha idolatrada Helga, todas as memórias que compartilhei contigo até este instante, ocorreram em apenas dois dias. Agora, ao continuar, narro o término deste terceiro dia. Pensávamos que tudo havia sido resolvido, ansiávamos por um banho relaxante e um descanso digno de verdadeiros aventureiros que acabaram de enfrentar uma luta brutal contra duzentos zumbis, vinte goblins, cinto ursos-coruja e um rufião cujo mísero alvo não mirava corretamente.

Ah, como a comida, a bebida e a conversa eram verdadeiramente esplêndidas! A taverna Stonehill Inn, um refúgio caloroso, nos acolhia com sua atmosfera envolvente, e a noite prometia findar de forma pacífica… até que sons alarmantes ecoaram da direção da carroça. Acudimos, de imediato, apenas para testemunhar uma cena de combate. J5, com seus inventos prodigiosos, havia derrotado três homens das Marcas Vermelhas, e um quarto, apavorado, fugia em busca de reforços.

E assim se desdobrou um novo conflito, em que Ewan, J5, Harpysune, Pi e eu, Hrrank, enfrentamos humanóides híbridos. Estávamos exaustos das batalhas que já nos haviam provado durante aquele longo dia; nossos ataques, destituídos de força, não conseguiam infligir grandes danos a esses adversários, cujo vigor parecia sobrepujar-nos.

Durante o combate, surgiu uma criatura híbrida de aparência assombrosa—sua pele acinzentada, olhos de um azul pálido e luminoso, careca, com manchas escuras espalhadas por sua cabeça. Suas asas de inseto zumbiam com uma fúria sobrenatural, enquanto dois bulbos de veneno se agitavam em seu pescoço, inchando de ácido corrosivo. Com um berro que ressoava como um trovão no silêncio da noite, exigia que entregássemos a experiência Z-75, atacando-nos com um fervor implacável. Travamos uma luta ferrenha, nossos esforços pareciam insignificantes ante a tenacidade daquela criatura.

Logo, um segundo humanóide híbrido irrompeu na cena, ainda mais perturbador—um braço em forma de tentáculo, cabelos azulados como o céu ao crepúsculo, olhos que reluziam com um brilho gélido, e pele num tom pálido e azulado, quase translúcido. Um líquido viscoso gotejava de seus tentáculos, e ao tocar-nos, o choque elétrico nos percorria como uma descarga maligna. Outro embate começou, e uma vez mais, nossos ataques, embora determinados, eram ofuscados pela força desta nova ameaça.

Mas foi Alli quem se destacou em meio ao caos. Como uma deusa da guerra, suas flechas voavam com precisão letal, cortando o ar e atingindo os alvos com uma maestria incomparável. O vigor e a glória de sua atuação em combate eram inspiradores, cada flecha que disparava parecia condenar o destino dos malfeitores. E assim, um a um, eles caíram ante nosso poder coletivo, até que, finalmente, o campo de batalha estava limpo.

Ao fim, enquanto a poeira da batalha ainda assentava, o autômato J5, em sua curiosidade mecânica, vasculhou o bolso do rufião que havia derrotado. Ali, entre os pertences do caído, encontrou um pergaminho de procurado, com o nome de Ewan. O que isso significará? Apenas o tempo revelará.

O Eco da Mente: A Aliança Improvável - Sessão 9 (20.08.24)

Minha amada Helga, em nosso último encontro, ouvi rumores sobre uma certa bebida mágica que, dizem, intensifica as canções dos bardos para que até mesmo aqueles sem ouvidos para a música possam sentir a melodia em seus ossos. Um truque curioso, não acha? Algo que talvez pudesse transformar o mais desafinado dos cantores em um virtuoso das cordas. Mas, agora, vou ao relato da jornada, que, como de costume, foi marcada por uma série de eventos incomuns.

Na singela e rústica taberna onde nos encontrávamos, um jovem aproximou-se, com aquele olhar inquieto de quem carrega segredos. Seu nome era Pedro, e ele mencionou conhecer um caminho na floresta. Disse que o tal caminho levava seu nome, uma homenagem concedida por um menino apelidado de Carpinha, que fora o descobridor da trilha. A inocência e o mistério que envolviam suas palavras despertaram minha atenção, embora não fosse de meu feitio dar crédito a tais anedotas.

Ao sairmos da taberna, deparamos-nos com um meio-elfo já bem maduro, de nome Daran, que se ocupava da ingrata tarefa de remover os corpos dos desafortunados, com exceção da gosma peculiar deixada por um híbrido de mão de polvo. Tal substância me intrigou, e não pude resistir à tentação de recolher uma amostra para estudos futuros, ciente de que seu potencial poderia revelar segredos inusitados.

Enquanto isso, Pi, com aquele seu ar sempre pensativo, sugeriu enterrar os corpos no pomar de Daran, dizia isso enquanto olhava para o jovem Pedro, em um gesto que parecia querer apaziguar o espírito do menino. Sune, por outro lado, propôs devorá-los, com uma pausa dramática que soou quase como um ensaio teatral. Daran, por fim, nos indagou se fomos nós os responsáveis por remover os corpos; é óbvio que essa tarefa não é nossa. Suspeito que tal retirada deve ter sido feita pelos Marcas Vermelhas, um grupo sobre o qual já ouvi rumores.

Prosseguimos até o posto avançado de Phandalin Escudo de Leão, onde Linene Graywind, uma mulher de língua afiada e temperamento firme, nos aguardava. A mercadora, que aparentava trinta e cinco anos, era a responsável pelas mercadorias que haviam sido roubadas pelos Goblins. Ewan e Pi tentaram negociar com ela as garras e bico do urso-coruja, mas Linene mostrou-se relutante até que Pi, num gesto quase imperceptível, conseguiu dobrá-la, assegurando-nos setenta moedas de ouro. Em troca, Linene compartilhou informações sobre problemas com orcs nas redondezas.

Em seguida, dirigimo-nos à prefeitura, onde deparamos com um folheto oferecendo uma recompensa de cem moedas de ouro pela caça aos orcs pendurado em um quadro de lembretes. Pi, sempre diligente, dirigiu-se ao balcão de receptação e falou com o jovem atendente, informou que precisávamos de uma audiência com o Burgomestre Harbin Wesber. O rapaz nos fez esperar por alguns longos minutos antes de nos encaminhar ao gabinete do Burgomestre.

Quando finalmente adentramos o recinto, encontrei-me frente a frente com um homem cujo excesso de peso era evidente. Suas roupas pareciam gritar sob a pressão de um corpo que exalava odores que quase me fizeram recuar. Pi, com a habitual perspicácia, começou a inquiri-lo sobre os goblins e o paradeiro de Gundren. O Burgomestre, suando profusamente, parecia mais preocupado com os Marcas Vermelhas do que com as verdadeiras ameaças. Ewan, sempre astuto, o questionou sobre tais mercenários, mas o homem apenas respondeu que eles eram beberrões e arruaceiros. A visão era deplorável: um líder que engordava à custa do povo, sem a mínima compostura, enquanto nós procurávamos por respostas em meio ao caos.

Depois desse encontro grotesco, seguimos para a fazenda de Qelline Alderleaf, uma halfling de meia-idade. Ela nos recebeu com uma galinha morta nas mãos, e ao fundo, um galo chamado Alfredo cacarejava incessantemente, como se fosse seu último dia de vida. O som era estridente e irritante, quase me levando a desejar que o animal aprendesse bons modos ou, ao menos, soubesse seu lugar. Qelline, contudo, mostrou-se uma fonte útil de informações. Ela nos contou sobre dois Marcas Vermelhas e um ser peludo que adentraram uma caverna na floresta. Foi Carpinha, o filho da halfling, que encontrou esse caminho, ele teve a sorte de não ser notado enquanto se escondia entre as árvores. Qelline, por fim, ofereceu-se para nos guiar até a entrada da caverna, e Pi, como de costume, apresentou uma ilusão de Iarno, ao que ela respondeu, com toda a simplicidade: “Nunca nem vi.”

Dentro da caverna, a tensão aumentou quando Notico, a criatura que sussurrava em nossas mentes, fez-se presente. Pi, num acesso de pavor, começou a correr sem olhar para trás. E, para nosso espanto, enquanto ele fugia, seus cabelos caíram repentinamente, deixando-o completamente careca, sem que houvesse qualquer sinal de que voltariam a crescer.

Após o tumulto inicial, acabei caindo de uma ponte de seis metros de altura, o que resultou em algumas lesões. A dor foi um castigo, mas rapidamente me recompus e comecei a investigar o corpo de um carpinteiro, encontrando ferramentas de carpintaria. Mais ao fundo, um baú chamou minha atenção. Nutri a esperança de que fosse um mímico, criatura que há tempos desejava encontrar, mas, infelizmente, tratava-se apenas de um baú comum, contendo um pergaminho de augúrio, uma espada longa com um gavião aberto, duas poções de cura, cento e sessenta peças de prata e cento e vinte de ouro, além de cinco pedras de malaquita.

A batalha contra Notico foi uma verdadeira prova de força. Ewan e seu clone, uma duplicata rubra dele, lutaram lado a lado contra a criatura, desferindo golpes precisos enquanto o Notico tentava revidar com suas investidas mentais. Pi, no entanto, percebeu que precisávamos de reforços e saiu correndo para buscar Alli, Harpysune e J5, que aguardavam do lado de fora da caverna. Enquanto isso, eu, ainda me recuperando da queda, lutei para sair do buraco onde havia caído e retornei ao combate, decidido a dar minha contribuição.

Eventualmente, conseguimos negociar um acordo com Notico, o que trouxe um momento de alívio em meio ao caos. Contudo, Pi, jamais satisfeito, decidiu explorar profundamente a caverna, encontrando uma escadaria à esquerda que levava a várias portas e de uma delas, sons guturais em goblinoide podiam ser ouvidos. Pi, em uma tentativa desajeitada, tentou reproduzir os sons para que eu os traduzisse. O resultado, como era de se esperar, foi risível. Quando me aproximei para ouvir melhor, a porta se abriu subitamente, revelando um bugbear ameaçador, com mais dois de sua espécie ao fundo e um goblin, prontos para o combate.

Extra

Querida Helga, há algo que talvez a surpreenda sobre a origem de minha querida companheira Sune, algo que nunca compartilhei com ninguém, exceto em meus devaneios mais íntimos. O que vou relatar agora é de uma ternura que até mesmo meu coração endurecido não pode ignorar.

Sune, com uma gentileza e dedicação que jamais pensei existir em tal ser, se ofereceu para chocar o ovo de urso-coruja.“Deixe-me cuidar disso,” ela disse, com um brilho de esperança em seus olhos. E assim, aquela que já era um milagre da natureza ganhou minha eterna gratidão.

Meias que Libertam e Identidades que se Entrelaçam - Sessão 10 (27.08.24)

Minha amada Helga, uma curiosidade intrigante sobre meus próprios iguais, os Bugbears. Poucos sabem, mas estas criaturas, com toda a sua brutalidade, possuem um medo peculiar do som de sinos. Talvez seja um resquício de alguma lenda antiga, ou apenas uma superstição que se enraizou profundamente em sua mente. Embora eu seja, como bem sabes, uma exceção notável – mais belo, mais astuto, e muito mais inteligente do que qualquer outro Bugbear que já caminhou por este mundo – não deixo de me fascinar com as fraquezas e peculiaridades de nossa espécie. Fica o conselho, minha amada: se alguma vez o perigo nos espreitar de novo, talvez um sino na hora certa possa salvar o dia.

Mas, retornando aos acontecimentos recentes, o combate que se seguiu foi feroz e sangrento. Mal tivemos tempo para respirar quando a porta se abriu subitamente, revelando um bugbear ameaçador, com mais dois de sua espécie ao fundo e um goblin, suas presas à mostra e os olhos famintos por violência. Fui eu, Hrrank, quem primeiro sucumbiu à fúria da batalha, canalizando toda a minha força em um golpe poderoso que reduziu um dos meus semelhantes a nada além de uma pilha inerte no chão. A lâmina de Ewan cintilou ao meu lado, derrubando outro Bugbear com a precisão de um mestre, enquanto Pi, sempre ágil, encontrava aberturas entre as defesas inimigas, enfraquecendo-os com movimentos rápidos e mortais.

J5, Harpsune, e a intrépida Bru Axona lutaram ao nosso lado, suas ações coordenadas e implacáveis. O campo de batalha se tornou uma sinfonia de caos, onde cada nota era marcada por um grito de dor ou o som metálico de aço contra aço. Em meio a este tumulto, um pequeno Goblin chamado Droopy chamou nossa atenção. Ele estava sendo brutalmente espancado pelos Bugbears e, apavorado, balbuciava em sua língua nativa, antes de se esconder debaixo de uma cama, procurando em vão por segurança.

Minha força descomunal, contudo, provou ser uma maldição para o pequeno Goblin. Enquanto avançava sobre um dos brutamontes, subi na cama sob a qual Droopy se escondia, e a estrutura, frágil sob meu peso, cedeu, despedaçando-se. O Goblinzinho, agora ferido, ganiu de dor antes de escapar para outro esconderijo, tremendo de medo enquanto o combate continuava. Mas a maré virou a nosso favor, e logo os Bugbears estavam todos caídos, sua sede de sangue fora apagada para sempre.

Quando a poeira baixou, Droopy, ainda trêmulo, se arrastou para fora de seu esconderijo e Ewan o erguei pelo pé. Nesse momento, o ar ficou ainda mais triste e, com lágrimas nos olhos, o goblin contou-nos sobre as torturas que sofreu. Seu relato era de partir o coração, e Sune, tocada pela miséria do pequeno, ofereceu-lhe uma meia como símbolo de sua liberdade recém-conquistada. Droopy, agora liberto, celebrou sua nova condição com um grito de alegria, mas, ao lembrar-se do Nótico, seu entusiasmo foi substituído por medo, e ele optou por ficar conosco, buscando a proteção de nosso grupo.

Seguimos em frente, atravessando o corredor que nos levou a uma nova porta. Atrás dela, encontramos cinco humanos, eram mercenários dos Marcas Vermelhas, embriagados e entregues a um jogo peculiar que envolvia dados de diferentes formas. Um deles, imerso em sua narração, descrevia uma cena de batalha com uma paixão tal que parecia ele próprio estar vivendo a história. Ele evocava imagens de heróis em luta contra forças colossais, onde cada lance de dado decidia o destino de mundos.

No entanto, a realidade logo se impôs, e não havia tempo para jogos. O combate que se seguiu foi intenso e, no calor da batalha, Bru Axona de repente se transformou em Alli, perdida e confusa em meio ao caos. Ao vê-la hesitar, gritei: “Apenas ataque!”, e Alli, sem questionar, preparou suas flechas contra os inimigos, seus golpes tão ferozes quanto precisos.

Os humanos, já embriagados, não foram páreos para a nossa força combinada. Um a um, caíram, incapazes de resistir ao nosso ímpeto. Quando o último deles encontrou seu fim, o silêncio retornou, com o peso da vitória.

Ainda com a adrenalina correndo em nossas veias, eu, Ewan, e Pi seguimos por uma segunda porta. O corredor que se revelou à nossa frente levava de volta à fissura no início da caverna, mas havia uma nova porta, imponente e misteriosa, nos aguardava bem a nossa frente. Pi, destemido como sempre, entrou primeiro, e o que encontramos foi um laboratório alquímico, seus aromas inebriantes e a desordem organizada dos frascos e instrumentos espalhados pelo ambiente nos causaram perplexidade.

Estávamos tentando entender o propósito daquele lugar quando um rato, pequeno e astuto, nos observou do alto de uma prateleira. Pi, intrigado, se aproximou, mas logo sua mente foi invadida por uma dor lancinante. Ele segurou a cabeça, atordoado, enquanto a força da dor o fez gritar. O som ecoou pelas paredes, e todos nós, instintivamente, pedimos que ele se calasse. Alli, contudo, foi menos sutil, gritando de uma sala ao lado para que ele falasse baixo.

Curiosidade sobre Alli e a tal Bru Axona

Minha adorada Helga, devo compartilhar contigo uma observação intrigante sobre Alli e Bru Axona, que desafia a lógica e nos deixa a todos perplexos. Parece que a mente de Alli é um labirinto de confusão, onde as identidades se entrelaçam de forma caótica. Em certos momentos, ela se apresenta com uma postura altiva, exigindo ser chamada de Bru Axona, sua voz carregada de uma elegância e pomposidade que mais parecem pertencer à nobreza. Nesses instantes, é comum vê-la conjurando magias com uma precisão que denota anos de estudo e prática.

Contudo, não tarda para que essa máscara de sofisticação caia, revelando uma Alli completamente diferente. De repente, ela se vê perdida, olhando ao redor como se o mundo tivesse mudado de lugar. “Merda, ela fez de novo,” reclama, sua voz agora carregada de um tom malandro, como quem está acostumada a lidar com as adversidades de maneira bem menos formal. Nesses momentos, a magia é deixada de lado, e em suas mãos surge um arco e flecha, que ela maneja com a destreza sanguinária de uma ladina experiente.

Essa alternância constante entre Alli e Bru Axona é tão confusa quanto fascinante, uma dança entre duas personalidades que parecem estar em guerra dentro de uma mesma mente. É uma enigma que ainda não consegui desvendar, mas que certamente adiciona uma camada de complexidade à nossa já tumultuada jornada. Creio que deve ser algo excêntrico da jovem dama.

Por mais que eu, Hrrank, seja um Bugbear de notável inteligência e beleza, devo admitir que os mistérios da mente continuam a me surpreender.