by Caio Mizerkowski
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100 anos atrás

Ler somente ao final aventura O terceiro filho do Marquês Pinus do Grande Pinheiro do Leste, Pipérion "Pi" foi um membro destacado da corte do reino das fadas, conhecido por seu carisma e habilidades diplomáticas. Embora não fosse o mais inteligente ou sábio, sempre confiou em sua voz persuasiva para convencer os outros, muitas vezes estando errado. Sua lábia e finesse social lhe renderam muitos aliados na corte, e essas habilidades eventualmente lhe garantiram uma missão de um antigo e poderoso mago da corte. Pipérion foi encarregado de recuperar um objeto místico de uma sala que era muito maior por dentro do que parecia por fora. Essa sala era acessada por uma passagem estreita em um velho carvalho, com um chão adornado por padrões hipnotizantes de cores e arabescos. No centro, havia uma esfera de cristal, dentro da qual os quatro elementos borbulhavam, se misturavam e se separavam. Ao tocar a esfera, Pipérion sentiu um arrepio e viu um futuro possível onde o grande pinheiro, lar de sua família, era destruído pelo fogo de um dragão. Apavorado, ele deixou a esfera cair, causando uma pequena rachadura imperceptível, mas suficiente para desencadear sua ruína. Noite após noite, Pipérion foi assombrado por sonhos da destruição de sua casa, cada um mais vívido que o anterior. Até que uma voz misteriosa começou a ecoar em sua mente, oferecendo proteção às terras de sua família em troca de um pacto. As visões tornaram-se cada vez mais aterrorizantes, empurrando Pipérion cada vez mais perto da aceitação. A voz exigia uma única tarefa: entrar na sala do mago e destruir a esfera de cristal. Uma noite, Pipérion se esgueirou até a sala e arremessou a esfera ao chão. Na primeira tentativa, nada pareceu acontecer, mas na segunda, uma rachadura apareceu. Com a terceira arremetida, a esfera trincou e ele começou a ouvir quatro vozes distintas discutindo em uma língua desconhecida. Na quarta tentativa, a esfera se despedaçou completamente, liberando quatro poderosos gênios elementais. Três deles se dispersaram, deixando rastros de fogo, ar e água. O quarto, uma criatura pesada com aspecto terroso, olhou para Pipérion e falou em um idioma elemental que ele agora entendia: "Vou cumprir minha promessa, mas agora você deve obedecer às minhas ordens." Com um estalar de dedos do gênio, Pipérion se viu no plano material, sem saber o que havia acontecido ou como retornar. Toda noite, a partir de então, ele ouvia uma risada zombeteira em sua mente antes de dormir. Após vários meses e após enfrentar inúmeros desafios, Pipérion aproximou-se do local da aventura, montado em um mastim que carregava seus pertences e assobiando uma melodia.

Dia 73 P.G

A solidão é o lugar aonde todos se encontram

Muitos dias após ter saído de Waterdeep, continuo minha jornada e as minhas escritas. Escapei de muitos perigosos nas florestas, vi o vasto oceano a minha esquerda e a maligna rocha a minha direita, vi os espíritos dos mortos enquanto caminhava pelo o que os seres desta terra chamam de “High Road” as margens de um grande pântano. A magia nestas terras não é a mesma que a de casa, sinto falta disso.

No entanto, nem tudo são as trevas e a escuridão que sempre estão presentes neste mundo, Au-Fredo continua a me alegrar durante a minha jornada e tem se provado um companheiro muito confiável e amável, espero um dia mostrar a ele as planícies de Feywild, assim como as florestas. A comida desse mundo também possui um gosto único, não tão potente como de casa, mas os temperos são bons e também as batatas. Au-Fredo se deliciou com um farto banquete assim que chegamos a Neverwind, enquanto eu ia em suas costas mostrando meu esplendor.

Rafael, que parece ser um grande mestre cozinheiro destas terras fez um delicioso cozido, com batatas e cenouras, assim como especiarias desta terra. Não sei como ele não conquistou um reino com seu talento, um verdadeiro império de cozinheiros.

Após isso, pouca coisa de nota aconteceu, somente as criaturas normais desta terra, com a feliz aparição de um Bugbear, mas… azul? Bastante engraçado que nestas terras essas criaturas são mais coloridas do que em Feywild, deve ser algo na comida. Após isso, resgatamos uma pessoa de uma fogueira, matamos uns goblins, nada realmente relevante até voltarmos para a cidade.

Ao voltarmos a cidade, eu tive a visão mais terrível, uma quimera, criada por alguma magia antiga e poderosa desse reino, capaz de moldar a carne e fundir diferentes bestas. Esse ser horripilante, com feições de lobo, serpente, dragão e águia me assombrou e me deu um terrível enjoo durante a noite, que me impediu de dormir bem.

Dia 74 P.G

Quem procura sempre acha

O começo do dia foi um grande sucesso, partimos cedo para a estrada e vimos novamente o mar. Obviamente o oceano dessa terra não é tão belo como os mares de Feywild, mas ainda assim são apreciaveis e mostrei eles para o Jhonny 5 durante o nosso trajeto.

Essa criatura de metal parece também ter vindo de outro local e estar tão perdido como eu, ele também tem um mascote, embora este seja um pouco assustador e não tão amigável como o Au-Fredo, que é um bom garoto, o melhor garoto de todos.

Outro fato importante é que mostrei logo minha imensa utilidade para o grupo na minha especialidade, buscar e encontrar coisas e pessoas. O Ewan pediu para que caso víssemos alguma criatura híbrida ou misteriosa, que avisassemos a ele, ora, eu fui o mais rápido de todos e apontei para o bugbear Hrrrrrrrrank (acho que eram 7 r, ou será que eram mais?). Ele obviamente é uma criatura híbrida entre um clássico bugbear e uma blueberry, um… bluebear :D

O Hrrrrrrrrank pareceu um pouco surpreso com a minha descoberta, talvez por ter crescido nesse mundo tão descolorido, ele não tenha tido muito contato com outros bugbear. Eu no entanto, tenho até uma tia cuja vizinha tem uma filha que é amiga da mulher de um bugbear, é muito bom ter conexões.

Infelizmente o caminho estava interrompido por dois cavalos mortos, embora do alto eu não visse ninguém que parecesse responsável por isso. Mas a vista era linda lá de cima, com muitos vales e o oceano, montanhas e a floresta, um reflexo enevoado do reino das fadas em terras mortais.

Quando desci, para a minha surpresa, uma flecha me acertou e me carregou com ela para junto da carroça, tudo parecia tão pacífico lá de cima, esse mundo sempre me surpreende negativamente.

Felizmente estou acompanhando de guerreiros muito capazes que logo eliminaram as ameaças. Mas de onde elas vieram é uma pergunta que vai ficar na minha cabeça por um bom tempo.

Após esse curto combate, precisaram novamente das minhas habilidades para encontrar um anão. Ora, olhei as pegadas no solo e segui elas com muito cuidado, até observar as costas dessa criatura gigantesca que chamam de anão. Duas buscas, dois sucessos.

Tivemos que deixar a estrada, por algum motivo que não prestei a atenção e matar mais alguns goblins. Aparentemente a tortura é algo muito bem visto nessa sociedade, bastante estranho, mas ei de me adaptar.

Dia 74? P.G - Parte 2

Perdido está aquele que caminha sozinho, pois a amizade é sempre um caminho certo

Muita coisa ocorreu nas últimas horas, estou um tanto cansado e ainda um pouco bravo com tudo, mas se eu tiver uma boa noite de sono tenho certeza que amanhã estarei melhor. Meu anel está um pouco cheio com as caixas que precisaram guardar, mas ainda existe um espaço confortável para mim dentro dele. Uma boa ação nunca custa nada… bem, as vezes custa.

Sem me adiantar, o principal é que após sermos guiados pelo goblin, chegamos a lugar nenhum, ou mais precisamente, em algum lugar. Uma clareira no meio da floresta, o que é bem diferente do castelo que procuramos. Não acredito que os seres desse mundo construam seus castelos em árvores, eles são muito grandes para isso e a maior parte deles não parece saber escalar bem ou voar.

Nessa clareira a rainha era uma ursa-coruja, um ser que meus companheiros descreveram como possuindo patas de cavalos e uma cabeça de coruja, me pergunto que cogumelo que eles comeram para chegar nessa descrição. Se algum dia eu encontrar um cavalo com patas desse tamanho, tenho certeza que estarei a caminho de casa. Felizmente não fui o único a achar essa descrição no mínimo curiosa, Hrrrrrrrrank me pareceu até irritado com isso.

Fomos de certo modo forçados a matar a ursa-coruja, após ela ter devorado nosso goblin numa bicada, ele foi o guia mais inútil que já vi, talvez tortura não seja um modo tão bom de conseguir informações. Vencemos, batalhas em geral são desinteressantes, e conseguimos alguns espólios, nesse mundo em que a fartura é incomum e a magia é rasa, toda oportunidade deve ser aproveitada. Cada parte da ursa-coruja que parecia útil foi retirada, incluindo um ovo desse ser que o Hrrrrrrrrank guardou em sua mochila.

Fiquei com um elmo que deve ser muito comum nestas regiões, achei engraçado que o mesmo alterava de tamanho e coube muito bem na minha cabeça, ainda tenho que encontrar uma forma de usar isso, minhas tentativas hoje não foram bem sucedidas. Outra criatura com o mesmo elmo e uma capa escura nos observava de longe, talvez seja parente daquele que a ursa-coruja devorou.

Voltamos para a caverna, para capturar outro goblin que pudesse ser nosso guia, em retrospectiva, considerando a burrice destas criaturas, não foi uma boa ideia. Um deles preferiu fugir a cumprir o acordo que tinha conosco, todos os outros morreram. Também resgatamos um humano, parece que uma prática comum entre estas criaturas começarem a devorar as presas pelos braços.

Tudo parecia ir bem, um dia de vitórias eu diria, mas não, aquela pedra falante tinha que ofender meu amigo e colocar palavras na boca dele. Quando na realidade ele nunca seria mal educado como ela fez ele parecer ser. Au Fredo é muito sábio, já me salvou de muitos problemas, ele nunca ofenderia pessoas dessa forma, NUNCA, eu sim, ele não. Até o Hrrrrrrrrank ficou um pouco envergonhado com o comportamento da pedra, desculpas foram ditas, mas eu ainda tenho que me acalmar um pouco.

100 Anos e 75 dias P.G

Lagrimas na chuva são como as memórias derramadas no tempo

O mínimo a se dizer sobre esse dia é que ele foi aterrador, ao menos para mim, e imagino que também para meu amigo Ewan. Engraçado que tudo começou bem; tínhamos eliminado muitos goblins, e o resto da viagem foi tranquilo. Fiz as pazes com Hrrrrrrrrank e entreguei a ele o babador que encontrei no outro bugbear. Encontramos mais uma alma perdida, um tanto exótica para se dizer o mínimo, Ali, uma tiefling que, volta e meia, fala sozinha e, na menor oportunidade, esfaqueia os outros. Minha intuição me diz que, além de causar mortes, ela também é muito hábil no famoso pickpocket.

No entanto, tudo isso pouco importa na grande escala das coisas. Me vejo até este momento aqui, à luz da lareira, junto ao Au Fredo, escrevendo sobre mais um dia. Mas, ao invés de ser mais um dia entre poucos, percebi que era mais um dia entre muitos. Em vez de ser o septuagésimo quinto dia, hoje é, de fato, o trigésimo sexto milésimo sexcentésimo dia após o fatídico incidente.

Ewan possui muito em comum comigo, agora eu percebo. Estamos longe de nossas terras, somos criaturas marcadas pela magia que foge ao nosso controle, perdemos por muito tempo a nossa identidade e, ainda assim, temos que sobreviver. Sinto uma grande vontade de ajudá-lo, ao menos, as criaturas que o perseguem podem ser cortadas, como percebemos durante o combate de hoje. Mas qual lâmina é afiada o bastante para cortar as angústias que disfarçamos em sorrisos?

100 Anos e 76 dias P.G

Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita

Deixe-me guiar novamente pelos meus instintos na noite passada, enquanto todos dormiam, principalmente o Au-Fredo, e após eu ter escrito meu diário, sai para fora e deixei um pequeno recado para estes tais de Marcas Vermelhas.

Obviamente o recado que deixamos durante o dia, foi muito mais impactante, mas mesmo assim, sinto que deste de cedo comecei a fazer um ótimo trabalho. Quando acordamos, só me lembro agora de umas crianças, ou será que eram anões sem barba ou aqueles halflings (half ling e a outra metade é o que?), que nos guiaram para um ótimo destino, uma fazenda que plantava pães (deliciosos), e a dona da fazenda, que eu tenho certeza que era uma halfling e half alguma outra coisa, nos levou para o esconderijo dos Marcas Vermelhas.

Eu não sabia o que esperar, mas entre tudo o que não esperava, o que eu esperei menos foi o que eu encontrei, um ser com um único olho verde, escalando as paredes e invadindo meus pensamentos, falando em minha mente e me trazendo lembranças do final do meu passado e do começo do meu esquecimento. Me apavorei, é verdade, e parece que uma maldição de outrora (as vezes benção) se manifestou novamente e meus cabelos caíram, me lembro das primeiras vezes que estes efeitos estranhos ocorreram, enquanto eu ainda estudava os princípios da magia.

Corri e pedi ajuda, já que nem todos haviam adentrado na caverna, quando voltei um combate se desenhava, mas Ewan parecia ter um dom para apaziguar uma luta, tanto como possuía o dom para termina-las pela força. Um acordo estranho foi feito, passagem pela caverna em troca do corpo daqueles que derrubássemos em combate. Não parecia que teríamos muitas opções e no final das contas estávamos aqui para destruir os Marcas Vermelhas.

Sangue, morte, goblin, homem, fogo e lâmina. Descobrimos inclusive, um ser perdido, não tão maldoso como os de sua raça, não parecia vil e cheio de trapaça, criatura infeliz preso num corpo de desgraça. Pouca coisa se passou, muito sangue escorreu, até finalmente encontrarmos aquilo que não foi buscado, se não era ele, o amigo de Sildar. Fiquei realmente surpreso em o encontrar aqui, era para ele ser um membro da aliança dos lordes e não o chefe desses bandidos. Me parece que interrompemos seus atos libidinosos com criaturas sem vontade, bonecos guiados por magias que eu não conhecia, corpo alterados como o do Ewan, mas com as suas almas drenadas.

O combate em si foi pouco importante, mas muito trabalhoso, o que me lembro é de sua conclusão (deixemos de lado todas as vezes que eu caí no chão). Perseguimos o mago por escadas e corredores, até que ele medroso se escondeu junto as grades, atrás do corpo de um inocente, adaga em punhos e calças cagadas de medo de nossas espadas. Parece que nesse momento, Hrrrrrrrank entrou em uma fúria diferente, só via orcs, todos eram orcs a seus olhos. Por sorte eu tinha uma magia pronta para esse momento e protegi o prisioneiro, que depois descobrimos ser um amigo do nosso bluebear. Após o mago cair, tivemos que nós unir para derrubar o nosso amigo.

Esperamos um longo tempo dentro da caverna, enquanto nos organizamos e esperávamos o despertar do nosso fera. Terminamos de explorar o que faltava e voltamos para a cidade, para finalmente comermos nossos merecidos pães. Muito se vendeu, muito se falou, fui eu elevado a manto da aliança dos lordes, embora talvez devesse ter recusado, mas não sou bom em recusas. Sei que já estava cansado a essa hora, como estas criaturas grandes andam em um dia, felizmente eu posso voar, senão minhas pernas não aguentariam.